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Entraste num dia em que o Sol se impunha de mão dada pela brisa, naquele resto de Tejo a abraçar o oceano.
Quantas luas passaram, quantas cheias ou vazas marés, quantas vontades por provar, quantos amargos de boca morreram, quantos sonhos roubados, quanto tempo em viagem de ida sem projecto de volta, quanto de cada um deixou que o relógio parasse sem vontade de o acordar, quanto?... de tudo...

Perdi a conta ao que hoje voltou em forma de acordes e voz de outra memória de estrada para andar.
A primeira era “história”de fundo de telefone durante o chamar. E autobiográficamente, espelho de reflexos comuns.
Noutro momento e espaço longe das marés do estuário Lisboeta sem brisa nem abraço ouvi-a de novo num FM próximo.
De outra vez...de outras tantas vezes, fundo de publicidade de cinema sempre que as marés eram vazas
Noutra ainda quando na margem de outro rio o chá de limão odorava sorrisos de descoberta. E em tantos outros multiplicados momentos, de caminho sinuoso e lamaçento, de dias cinzentos.

O cenário musical de fundo repetido na probabilidade de diferentes começos de “história”, que deixei de contar, eternizou-me por dentro cada compasso... cada sílaba.. Gostei que essa brisa em jeito de pos-it me chegasse em tom audível que aprendi a deixar atravessar-me ou ficar... quase sempre ficar

Hoje, a mesma “historia” acordou-me fora de horas, em cenário sem vento, distante do mar.

Faço-lhe “história”... guardo-a junto a pedras de caminho e infinitos pedaços teus, no baú da memória selectiva... salpico de verde o negro e em esquisso de carreiro... rumo à estrada.

Rotunda




O Sol tinha-se retirado na previsível e universal divergência metereológica com a chuva, .
Ela chegou, como sempre, sem avisar caíndo de braço dado com a gravidade ... a molhar a última conquista de Rá, sugerindo a corrida para um abrigo seguro, afastado desse contágio de gotas obesamente indesejáveis.
Sempre que a chuva caí, torna-se exemplo primeiro onde o caír não lhe é doloroso e singular e deixa-se cair com ela aquele silêncio obstinado e audível.
A estrada torna-se mais lenta, as luzes mostram-se e ela sorri com aquele seu lado convencido por ter voltado a ganhar ao provocar o encolher dos outros.
Numa berma da rotunda vi-o sentado no rail desafiando a chuva deixando-a de ombros rendidos cair-se por ele. O carro teria capotado e voltado ao estado inicial semeando pela estrada infértil os restos daquele final de tarde indesejado, com sintomas graves e melhoras rápidas pouco optimistas.
Ficou-me a imagem de ambos, molhados, presos naquele silêncio indolente à espera que a chuva ou a página mudassem.
Antes fazer meia volta no final da recta vi a intermitência de luzes azuis aproximarem-se da rotunda e segui em frente.

Cheque ou numerário?

A hora de almoço serve para duas coisas. Almoçar e ir para a bicha do banco.
Depois os adeptos da segunda hipotese lamentam a demora dos serviços, não entendendo que os bancários também almoçam também vão a outros bancos tornando o pessoal reduzido no balcão, viciando-se todo o ciclo.
Comentários de bicha:
- Não sei porque é que mudei pra isto. Nunca vi, é sempre esta cegada... (Lamenta a senhora de avental, intensamente perfumada de fragrância marítima.)
- Querem é o graveto...parvo sou eu que, se não fosse o crédito, já tinha mudado( diz o último da anmada espera).
Estava lançado o mote.
Uma porta abre-se e de papeis na mão, a funcionária cola os olhares e protestos adiados dos esperantes em espera até se diluir a sua passagem na porta do fundo. Elas olharam-na de alto a baixo num silêncio de inveja, eles estáticos de aparência em exaltação interior.
- E outra vez à espera.
- Não percebo como é que não põem mais pessoal.
- Com tanta gente desempregada.
- Por acaso o Ronaldo deve ter mesmo conta neste banco deve.
- Esse não precisa de vir ao banco.
- É o banco que lá vai.
- A Londres?
- Onde for preciso.
- Eu até ía e tratava-lhe do dinheirnho.
- Até lhe pagam para andar aí a dizer que este é que é bom.
- Bom é ele.
- Se eu ganhasse como ele não me importava de esperar o dia todo.
- Nem eu.
- Eu nem esperava, comprava era o banco.
A funcionária faz o percurso inverso e o cenário repete-se...o silêncio a calar o diálogo cliente.
Outro funcionário aparece no segundo balcão:
- Próximo, pela ordem da fila por favor.
Fiquei a perceber que a noção de próximo nas bichas do banco em hora de almoço, é plural e se multiplica por 3, mas acaba sempre em bem. Afinal o “não custa tentar”, poderia ser uma estrofe do hino nacional.
Tornei-me adepto das bichas de banco à hora de almoço.

Passos...

Sempre que o tempo se engana de propósito apenas para confundir o que veste, ela troca-lhe as voltas. Por baixo do casaco comprido, vestiu de manhã, um tom verde vivo e justo denunciando-lhe as curvas.
Costumava passear pelo parque, demorar-se nas esplanadas, até que cada momento vivido a olhar os outros a fizesse mudar de lugar. Depois de roubar esse instante sem que ninguém percebesse sentia-se renovada. O gosto pela reacção invulgar dos outros eram puro prazer.
Ao descer a avenida, um piropo vindo de um banco vizinho, acertou-lhe em cheio. Retribui com um sorriso elevando o ego do emissor.
Ele, levantou-se e caminhou ao seu lado durante uns metros...ela não pareceu incomodar-se.
- Vai acompanhar-me até onde?
- Ao fim do mundo.. Posso?
- Pode. E consegue? Em silêncio?
- Andar é um prazer. Faço-o com regularidade.
Ela sorri de novo, mas por dentro.
E descem o Eduardo VII, Liberdade, Rossio, Nova do Almada, Arsenal...e no Cais do Sodré em ritmo igual , ele já menos seduzido pela persistência rítmica do seu andar:
- Vejo que também é uma amante da caminhada.
Ela responde com um sorriso, visível.
24 de Julho, 24 de Julho, 24 de Julho...:e ele fascinado com as curvas dela em movimento, mas menos com a recta interminável da avenida:
- O seu destino pode ser partilhado?
- Claro. O meu destino é um beijo.
Ele ganhou “energia” para chegar a Cascais...
Índia, Índia, Índia:
- Posso oferecer-lhe uma água? Não tem sede?
- Não. E você?
- Estou habituado e beber muita água sabe?
- Imagino. Desiste?
- Claro que não, mas preciso beber.
- Então desiste? Parar é desistir.
Ele sorri escondendo a derrota, de forma a que ela não percebesse.
- Acha que me consegue acompanhar até Carcavelos?
- Carcavelos?...
Ela aproxima-se dele, olha-o nos olhos e beija-o na boca, com um toque de lábios provocante, medalhado e vitorioso:
- Eu disse-lhe que o meu destino era um beijo. Perdeu...
Incapaz para resolver naquele instante o que faria a seguir... conseguiu apenas ficar a vê-la afastar-se ...

Rock in Rio Tejo



O Seixal como tantos outros cantos do Tejo comemorou os cravos numa noite fria de Abril deste 2009. Há muito tempo que não via tanta gente ensardinhada na rua frente a um palco. Fogo de artifício local e vizinho, porque a vista deixava. Pipocas, bifanas, balões, luzinhas de cores, empurranços, trambulhões, assobios, braços e copos no ar, cheiro a farturas adoçadas com risos e abraços de encontros.
O concerto começou e conseguimos chegar bem pertinho do palco, numa aventura de grupo em que alguns se perderam, nas esquinas de outros que não quiseram avançar.
Não me acho um resistente da época Punk dos Xutos, mas houve quem se fizesse notar por isso. Ao som de algumas do último CD ouviam-se protestos de companheiros de plateia tipo:
"Vão vender discos pró caralho...toquem xutos pá...", Pega no baixo e manda a puta da acústica fora ó Tim", "Romanticos de cagalhão"...
Mas os que nos 80 também passaram pelo RRV, voltavam a saltar e a esgotar a voz quando um tema cheirava mais a Xutos desse tempo.
Na foto tocava-se "Homem do Leme", do album "Cerco" de 86, um vinil marcante da banda. Lembro-me de ter juntado uns escudos durante uns dias para o comprar e não o emprestei a ninguém, tendo ganho alguns inimigos no circulo de amizades próximo.
Afinal em noites assim a malta cota quer é música, bjecas a acompanhar e muito "incenso" a rodar.