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Lua crescente... de Março

Falaste-me de sonho...de Lua crescente na vontade deste Março...

dou-to num todo "quase nada" de C ... de Cabrel.


Excertos de Março

                                                                                     Foto: Mika (tlm)

A previsão do tempo não bateu certo. E o sábado finava-se com um entardecer convidativo a imprevisibilidades.
Fui comer um crepe de chocolate com chantilly, caramelo e nozes. A menina dos crepes deixou queimar o primeiro. Esqueceu-se e por engano pôs gelado de baunilha no segundo . O terceiro sairia quase perfeito não fosse o rasgo acidental ao dobrar. Ela corou olhando-me de lado. Eu disse-lhe que não tinha importância. Assegurei-lhe num sorriso que não pediria o livre de reclamações em troco de mais umas nozes e outros tantos riachos de caramelo se ela o conseguisse de forma clandestina. Descobri-lhe de novo o tal sorriso pré-crepe. Entregou-me o prato na mão , quase descompensado pelo peso das nozes e caramelo extra. E ofereceu-me o mais doce dos seus sorrisos em jeito de desculpa.
Seria uma das últimas partes doces do dia.
Perto de uma rotunda apinhada de condutores de fim de semana, um deles decidiu impressionar a loura dos óculos astronáuticos sentada ao lado e encostou-me ao meio da rotunda, num chiar de pneus comum a qualquer saxotuner de escape sibilante, com electrohouse a sair-lhe pelas narinas. Não gostei, mas o sabor do crepe adoçou-me a razão e o pé direito. Atrasei por defeito a saída da rotunda, que por mero acaso é uma das minhas preferidas, quando tenho só por testemunha a Lua já bocejante.
Saí da rotunda depois de cruzar três faixas por causa do menino tuner fora de mão.
Claro que naquele preciso instante um outro "tuner" mais comedido me chamou pelo numero da matricula ao megafone da viatura e me sugeriu que encostasse. Fiquei a conhecer a sensação de me tratarem pelo numero da matricula do carro...mas ainda tinha o sabor do crepe. Passados alguns minutos e uma infracção do artigo 35 - 1º do código da estrada a valer 120 euros, voltei à minha rota desejada já sem o sabor do crepe e a contabilizar quantos teria comido se tivesse entrado na rotunda uns segundos depois...30 crepes.
O Speakeasy estava com um beat fantástico(Wat), mas o consenso ditou por maioria outro destino e lá fomos em excursão meia dúzia. Tinha decidido depois do crepe abster-me de qualquer outra decisão de monta nas próximas horas. As escadas do Plateau estavam populadas de sábado à noite. A música trouxe-me quase o sabor do crepe, não fosse o fumo e teria sido perfeito.
"Enter Sandman" mexeu-me o último gole, a acordar-me fora de horas para a hora de noite por dormir, dei os bons dias a Lisboa que despertava suave.
Ao chegar ao carro vi o retrovisor desfeito possivelmente com um pontapé alcoólico ou derivado. E vão duas mazelas graves no meu rodinhas, a última tinha sido numa porta... também não fui eu.
Não me apetece mais nenhum crepe...só um clic sobre a ponte, para eternizar esta aurora com o bizar dos Metallica ... duche quentinho e cama.

"Hush little baby, don't say a word,
And never mind that noise you heard
It's just the beast under your bed,
In your closet, in your head

Exit, light,
Enter, night
Grain of sand
Exit, light,
Enter, night
Take my hand,
We're off to never never land."

Dá-me os teus olhos ...e veste-te de negro luz...



Dá-me os teus olhos...e vem passear de braço dado pela rua das mil cores, dos mil cheiros, dos mil sons...das mil luzes.
Vem em silêncio.. a passos curtos...vem sempre em frente ou pelas tuas esquinas que nunca dobraste. Vem até ouvires a concertina vermelha do cego, sentado num caixote de madeira acabada, naquela esquina de Barbés. Segue-lhe o som...segue-lhe a sorte...segue-lhe a vontade de ter o mundo a cada diatónica, na ponta dos dedos que nunca viu.

...dá-lhe os teus olhos... e veste-te de negro luz.

Era uma vez...

Na espiral, entre percepção e memória...    



... cumpro o ritual adiado, colocando-as em Lemniscata.