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Um dia, o Tejo molhou-me o querer e decidi-me.
Lembro-me de já “armado” explorar as arcadas do Terreiro do Paço e tudo o que cabia na minha única 50mm. Os carros ainda por lá se quedavam na altura. Era por ali que tinha decidido ir.
Foi paixão por uma década. Fez-me viver, sonhar, sorrir, gostar, sentir, que era a melhor profissão do mundo.
“Matar” o momento quando se pretende vivo, contar o que outros querem esconder, falar sem pronunciar um som, gritar com a maior arma do silêncio.
Noutra dimensão da mesma área, deixar as luzes pintar de negro as sombras. Fazendo brincar os corpos em telas de cor neutra. E depois oferecê-los de novo à vida num passo de mãos e química elementar.
Com o propósito de fazer gostar, de ter vontade de, sugerir tudo o que os olhos não vêm mas que a vontade comanda.
Ou ainda, para tantos outros, naturezas mortas ou imagens para plasticamente se gastarem ao sabor de todos os dias úteis, acabando um dia numa gaveta ao lado de números obstinados que mudavam de cor a cada final de mês.
Revi tudo, num incrível contraste de uma terra devota no Gerês.
Havia uma mas menos cuidada no mesmo Terreiro do Paço. Há tantos anos atrás que perdi a noção de quantos.
Imaginei tudo o que passou naquele diafragma. No jeito modesto com que se envergonha dos cliques e outros ruídos digitais, levando-lhe para longe aqueles pedaços de alma que tão poucos entendem.

SiMi


Tinhas tranças noutro tempo. Sabia-te de cor os passos. Sentia-te chegar mesmo sem ver. Adivinhava-te o mote ao primeiro olhar. Sabia quase por cada teu respirar, que peça tinhas escolhido. Perfumavas notas, que teus dedos tocavam, num sustenido tempo que a meio tom se perdia. Trocavas com ele de olhos fechados, tantos abertos abraços que quase me fazias perder de ciúme. Não fosse ele passivo e submisso e perderia o jeito, o mesmo que me apontavas com aquele sorriso bemol. Em allegro te ouvia tocando-o, passeando-te, sentindo-o, harmonizando num estudo infinito. Com o prestíssimo da minha paciência a nunca atingir aquela última oitava. E os teus olhos sempre fechados atentos à pauta que te desfilava por dentro, desafiando-me num tempo rubato. Sabias o que me provocava, sabias o que me alteravas, sabias tudo mesmo debruçada sobre ele ainda e sempre de olhos fechados. E o tempo metrónomo galopando minutos que qualquer relógio não saberia contar.
De novo o tal sorriso agora menos visível mas que eu via, acompanhando o teu voltar ao tempo primo até te morrerem os dedos em grave. Voltavas, acompanhando-o de mão dada até ao silêncio das cordas, abrindo os olhos.
E eu esquecia mais uma vez toda a vossa eterna pausa cúmplice, que no durante me desafinava .
Ganhavas-me de novo e rendido, à forma como te despedias dele, encerrando o acto, no gesto lento de uma quase última vez.

Foi aqui que pela primeira vez te vi, com um vestido branco de laço, desconhecendo o mundo e as teclas pretas do teu primeiro palco.
Depois, também aqui, vi terminares outras escalas completas a preto e branco e contornares todo o espectro visível e seu oposto, abafadas no grave pelo aplauso da sala.
Hoje, já não há tranças, nem passos. Não te sinto chegar, nem o que vais dizer… nem tocar.

De ti, ficou ele. Calado, desafinado, baço, carunchento e esquecido a um canto.
E o tal ciúme que de novo me invade, desta vez em silêncio. Invejo-o mais uma vez.
Não consigo atingir a dimensão deste tempo. Se sonho um futuro, ou revejo um passado. Ou se tudo imagino, baralhando compassos, notas e toda a peça.
Talvez este silêncio seja apenas uma pausa que contagiou o tempo de agora. Ou só um compasso numa partitura de final glorificado?
Espero outro tanto, mas nada. Não há público, nem luzes, nem vermelhos. Nem sequer pauta ou cheiro de “conserto”.

Desconcertante o cenário… sem diapasão por perto.

S. Martinho, Setembro, 2006

Contra o tempo rolar

Outono de sombras calçado

Amarrar olhos ao mar

Amarras imaginar

Com reflexos escrever

Redondo o caminhar

Caminhos fingir

Nova rota encontrar

Ao cume subir

A muralhas chegar

Contrastes desenhar

No ocaso ficar

Rentrée


…e então acho que isto não se faz… Dizia uma loira que alguns minutos depois percebi que era a Florbela Queirós. Estavam num cenário cor de rosa que vim a depreender que era no programa diário da Fátima Lopes. A menos decotada das duas homónimas.
O tema de conversa, durante, imagino que outros 10 minutos, era a boca da Lili Caneças, paparazzada, descompostinha e despintada. Por alguns minutos achei que me ía tornar num fervoroso adepto da Pink Press…E eles a dissertarem sobre o assunto …Se o cenário fosse mais formal com umas gravatinhas e madeira tratada achava que poderia muiot bem ser uma sessão parlamentar da cuscovelhice .
E depois o tema mudou e um gajo que foi porta voz do Benfica também lá estava…e eu que não sabia que os reformados do glorioso arranjavam tachos desbotados. Ora vejamos, primeiro vermelho depois cor de rosa e a seguir o branco da senilidade ali mesmo às portinhas do céu…afinal a lei do silogismo até que ganha forma com exemplos assim.
A festa do Castelo Branco, foi o tema seguinte…animados, eles e elas dissertavam sobre o êxito da dita, para a qual alguns não tinham sido convidados, provocando aos ausentes presentes o escapar opinativo no comentário. Porque alguém disse à Maya ( não sei se é com y ou com um i… as minhas desculpas senhora D. May(i)a) que por volta das 4 da manhã houve na vizinhança descontente com o barulho de farra, quem atirasse ovos para o jardim florido do senhor com nome de cidade…então mas ela não adivinhou isso? Nem nas cartas? Nem nos astros? Nem nas pedras? Decididamente, serei sempre um leigo nas artes adivinhatórias…
Depois um moço novo que lá estava mas com cabelo rebelde e também assim a dar para o partido do outro com nome de terra interior começou a dissertar sobre se a festa tinha ou não motivo para ter cobertura mediática…ao que o ex vermelho e agora cor de rosa, defendeu com unhas e dentes. Afinal era um dos convidados mas saiu mais cedo antes dos ovos terem sido lançados. Cá pra mim isto são tradições dos ricos e o povinho é claro que nunca compreende estas modernices do jet7.
…não foi nada disso que aconteceu o que me disse o Castelo Branco foi que passou um carro e atirou os ovos lá para dentro, não foi nenhum vizinho…disse alguém no mesmo cenário cor de rosa…
A mim ninguém me tira da ideia que a SIC com todos os seus técnicos de imagem e comunicação …talvez importados das mais altas escolas do Rio ou ribeiro…descobriram uma forma colorida de fazer publicidade aos ovos, sem entrar na cota permitida por lei. ..só pode ser isso.
Acho que vou de férias outra vez…ou então atiro o comando da televisão para a capoeira da vizinha do rés-do-chão.
Hoje também estão 40 graus…deve ser por isso
Valha-me Nossa Senhora Sua Homónima