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Sonetando



Do escuro recear
Do sonho pular
Do cimo saltar
Do céu apagar

De sede matar
De calma beber
De espanto voltar
Da noite errar

De silêncio fugir na luz abraçar
Do sol atear no encanto espraiar
Do ter sentir e não se querer

De chuva molhar na água beber
Do espaço de terra no vento soprar
De dentro do canto a força vingar

Nickelback - Photograph(Audio)



As memórias musicais associam-me momentos do património emocional.
Depois há outras músicas que oiço pela primeira vez e que vão fazer parte das tais de momentos especiais, porque diferentes, porque mais intensas, porque as sinto assim.Foi assim com Sultans of Swing dos Dire Straits, com Kaleigh dos Marillion, e …tantas outras.
Apesar de gostar dos NIckelback este Photograph ouvi-o pela primeira vez na marginal a caminho de Cascais, também numa noite de chuva miudinha daquelas que fazem abrandar a marcha e pensar que por vezes sabe bem interromper o silêncio por uma boa causa … e vai tocar muito noutros tantos km de estrada
O tema não está intencionalmente em versão de qualidade …é apenas uma referência.
Não há por aqui nenhum pirata audiófilo.

Primeira chuva


Acho que nunca me soube tão bem senti-la de novo. Há muito tempo que a sensação se tinha divorciado da memória que nos sustenta os prazeres.
Gosto de ficar assim a olhá-la, enquanto me desafia o toque, provocando-me a vontade de todos os sentidos visíveis…e os outros, que se sentem, a cada momento que se nos passa. E ela ali a desafiar-me, num balanço suave, fiel à brisa despreocupada de domingo…e o cheiro…e a forma …e os movimento decididos
tocando-se em espectros, nas cores da imaginação.
Dou-lhe a mão esticando todos os dedos como se fossem poucos, na vontade de a tocar … ela a soltar-se…primeiro tímida…depois até abafar com um suspiro, tudo o que era ruído à nossa volta… e logo de forma crescente fazendo ouvir-se, ainda mais forte, mais alto… quase no auge… molhando…molhando-se…molhando-me.
Logo depois…tornou-se invisível… e fez-se esquecer… até à próxima vontade de se soltar…
Fiquei por ali… deixando secar, as gotas que dela sobraram… para que ma trouxessem de volta… numa próxima vez.

Bota lá pá


“Isto anda tudo ligado”, dizia o Sérgio, já lá vão muitas eleições para todos os gostos de vencedores e vencidos.
Estas autárquicas, dizem, vão servir para mostrar cartões ao governo…futebolizando o tema, até porque a bola é redonda e a pontinha da caneta com que se vota também. Uns apelam a um voto de desconfiança no executivo, outros apelam ao voto de confiança ao executivo, outros apelam que não se ligue ao executivo e se vote para a autarquias, nas autarquias não se pensa no executivo, o executivo farta-se de pensar nas autarquias em tempo de eleições… … … percebi agora depois destes anos todos porque é que quando era chavalito entrei por ali dentro e quis com um boletim de brincar exercer o que achava o meu direito, a presidente da mesa de voto me disse que eu ainda tinha que crescer muito antes de poder exercer o meu direito cívico. Aquilo era mesmo só para adultos e e…
O José “agarrou” com todos os braços que tinha, o rectângulo mais imperfeito que nunca, não sei se o seu nível académico lhe permite melhorar a forma do cada vez menos quadrilátero nacional, mas acredita que desejo muito que o senhor José tenha jeitinho para o desenho, pode até ir para aqueles cursos rápidos de nacionaldesign…ou será webdesign? As autárquicas prometem, e prometem muito até porque tenho a certeza que as surpresas têm sempre um gosto bom, mesmo fora do período natalício.
Um dos futuros candidatos virtuais a Belém espera por segunda-feira para anunciar se se deixa de virtualismos, dá um murro na mesa começa a treinar para a corrida ao palácio rosa. Coitado do homem…ainda ninguém percebeu que este tempo todo de espera se prende coma sua decisão calculista de escolher a melhor foto para o boletim de voto…e mais, a primeira coisa que o senhor Silva fará caso as presidenciais se alaranjem é vestir o fatinho de macaco da mesma cor e pintar o palácio da mesma cor para não destoar.
Se o Mário for o feliz contemplado acredito que não vai mexer na pintura rosa…até porque corre o risco de sem pó de arroz se notarem ainda mais as rugas. De resto muito mais que pinturas de parede ele é um adepto de outras pinturas…
O que eu gostava mesmo era que o desfecho fosse como este tempo de mudança…incerto. E nenhum dos dois dinossauros do Jurássico Portugal chegasse ao cimo da montanha, mas que a poesia trouxesse Maomé ao cenário.

Ahhhhhhhhhhhhh… agora a sério, não te esqueças…mostra que és português, grande, consciente e responsável… VOTA.

Impossibilidades gestuais (Audio)


O local familiar, o gesto comum o cheiro habitual, o vapor teimava em voltar a soltar-se da água que se deixava levar… o primeiro duche quentinho sinal de que o Inverno apronta-se a trocar com o Outono noutro ano ímpar…disse-me um dia alguém que são melhores que os outros. Até aqui tudo velho…não fosse um percalço de percurso que me trocou de destro a canhestro por uns dias. Este início parece sorridente mas o caso é grave e pouco dado a risos e serpentinas de Carnaval.
Peguei no chuveiro com a mão menos habitual, e notei que tinha levado o dobro do tempo a borrifar-me…o gel de banho tornou-se quase uma paciência impossível de terminar, para não falar em shampoo…resumidamente…o conceito comum de duche, tinha-se tornado num Inferno. Pus-me em causa, pus membros em causa, pus o cenário em causa…
Assumi que sou um destro gravemente dependente. Senão vejamos…
Já tentaste borrifar-te com a outra mão? Sim aquela que abre a torneira. Porque abrir a torneira não é tão fundamental quanto o borrifares-te…acho de resto que quando se diz…estou-me a borrifar para isso…imaginamos esse sentimento feito com a mão menos hábil, porque o acto de borrifar não é importante nem merece esforço…é à balda, à Lagardère, à vai de embute, não me interessa, e tenho raiva a quem sabe… a maioria dos gestos desprezantes são feitos com a mão menos dotada porque não são importantes.
Tens dúvidas? Pensa lá melhor, e diz-me se já alguma vez te masturbaste com a outra mão? Elementar…não? Isto daria uma tese de doutoramento…
Agora, e ainda no cenário do duche matinal ou antes do encontro nocturno com Morpheu experimenta por o duche na outra mão…sim a tal que não dá onanísticamente jeito nenhum, e depois percebes…quando tentares fazer com o mesmo à vontade gestos tão comuns da tarefa de tomar banho. Agora, se realmente já está tudo lavadinho e não notaste diferença… os meus parabéns.
Mas como sei que esse sorriso narcísico não te fica nada bem, passemos ao nível imediatamente a seguir…Agora voltas a espalhar o gel de banho no corpinho, pões pastinha de dentes na escova ( porque todo o português que se assume tem uma escova de dentes na banheira) e preparas-te para dois em um… A ordem de pegar em cada mãozinha na escova de dentes e no chuveiro fica ao teu critério…Começa a borrifar-te para tirar o gelzinho de banho e escovar os dentes ao mesmo tempo…e por amor de todos os santinhos, sê honesto e diz-me se conseguiste, sem ao menos ofender algum familiar desses objectos de limpeza pessoal, completar essa tarefa tão simples e de todos os dias…com o senão de apenas se executarem ao mesmo tempo. E como não é só o Entrocamento a terra dos casos raros experimenta se conseguiste com êxito os passos anteriores, volta a repetir mas desta vez tirando o gel de banho de um dos pés, com o outro. Se ainda te achares capaz de tudo isto sem esforço experimenta tirares o shampoo com os movimentos circulares do chuveiro escovando os dentes a uma velocidade não proporcional à do chuveiro.
Eu não consegui terminar a segunda fase…o caso é grave e só me falta mesmo tirar a última dúvida, será que a outra mão é mesmo tão desajeitada noutro tipo de manipulações?…se assim for… começo a procurar já amanhã um psi que me trate da pdi.