Páginas


TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMMMMMM
O dia estava a ser daqueles para esquecer. E ainda era terça-feira.
- Boa tarde. Estou a falar-lhe em nome da EDP…
Pensei logo que me tinham violado de novo as facturas da caixa do correio e me iam cortar a luz.
- Posso falar com o titular do contrato EDP?
- Pode
- É o senhor?
- Sou
- Pode dizer-me o seu nome?
- Posso.
E dali para a frente foi o debitar do costume durante alguns segundos…
- A EDP está a oferecer aos seus clientes um novo produto composto por serviços de que pode usufruir gratuitamente durante dois meses...
Fixe, pensei que me iam dar Kilowatts à bórliu…Até porque não estava a ver uma oferta muito diferente…Se os operadores de télémóveis dão télémoveis, acessórios, ou minutos e as marcas de automóveis dão garantias e gasolina e equipamento e os supermecados dão vales de compras…A EDP só me poderia dar Kilowatts…até porque não me serviria de nada oferecerem-me como prova de fidelidade um poste usado…alegando que a oferta de valor inestimável seria dentro de anos parte integrante do valioso espólio arqueológico industrial de uma época, em troca de mais 10 anos como cliente … pensei logo que eles já estão mortinhos de medo da concorrência espanhola e a reciclagem de postes eléctricos está pelas horas da amargura.
- …Assim tenho o prazer de lhe propor que por menos de dez euros por mês possa usufruir em caso de hospitalização, de uma quantia por cada dia de internamento…
Não acredito. O que é que a hospitalização tem a ver com a EDP? Será que isto é indicio de que as caixas vão desatar todas a explodir como aconteceu há uns anos… ou que a base das torres de alta tensão estão precocemente a enferrujar e eles que se querem prevenir, lançam isto? Será que estou mesmo acordado? Será que apanhei um choque eléctrico quando liguei a máquina dos batidos e estou a delirar? Será que tenho luz? Será que não tenho e que o corte me desligou?
- Mas não é só…
Continuava o Sr. Papagaio orgulhoso dos seus índices de fósforo e da pujança com que me bombardeava. Quase que estive para dizer logo que sim…que comprava que aderia…até porque naquele ritmo iria precisar mesmo.
- …Posso também dizer-lhe que no caso de desemprego a assinatura deste produto lhe assegura…
Chegaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa…não me lembro se disse ou se só pensei.
Fiquei com a sensação de que um choque de 220 V teria provavelmente um efeito menos nocivo.
E não resisti a perguntar:
- Desculpe mas…Então a EDP agora também vende seguros? Pretende-se um alargamento a outras áreas de actividade? E já agora porque não também um supermercado com kilowatts avulso? Uma marca de automóveis eléctricos? Comunicações electrizantes?
Ele riu-se…
- É que a EDP quer prestar ainda um serviço mais completo aos seus clientes daí este novo produto.
Concluíu, demorando quase tanto tempo nesta frase como em todo o outro discurso decorado.
- Pois mas não estou interessado, obrigado.
- Mas posso perguntar o motivo?
- Pode…
- Então qual é o motivo?
- Já tenho um seguro eficaz.
- Mas sabe que aderindo pode usufruir durante dois meses sem nenhum custo adicional?
- Sim já me tinha dito.
- E mesmo assim não quer aderir?
- Não, muito obrigado.
- Muito bem. Em nome da EDP desejo-lhe uma boa tarde.

Será que esta oferta é conhecida por hospitalizados e desempregados?

Há noites que caem e soam de forma diferente...e Lisboa ali tão perto





DESTA MARGEM
D'ONDE O CÉU SE ABRE LARGO
EM ARCO SOBRE O RIO
A ESTA HORA
EM QUE O TEMPO HESITA E PÁRA
DEIXANDO-SE FICAR
A ESTA HORA
TÃO SINGULAR
DE MÁGICOS TORPORES
ESTENDO OS OLHOS
BEBO AOS MEUS AMORES
E DEIXO-ME LEVAR...

DEIXO-ME IR
À FLOR DAS ÁGUAS
ASSIM COMO QUEM VAI, VAI
TÃO TRANQUILO
SEM DESTINO
ENQUANTO A NOITE CAI
COMO QUEM
SEM OUTRO RUMO
OU DIRECÇÃO
SE DEIXASSE ASSIM LEVAR
P'LO CORAÇÃO

VAI DE VIAGEM
NINGUÉM SABE P'R'ONDE VAI
VAI SEM BAGAGEM
NEM DIRECÇÃO
SAI SEM DESTINO
QUANDO A NOITE CAI
SOBRE ESTA MARGEM
DO CORAÇÃO

A ESTA HORA ESTRANHA HORA
EM QUE TUDO PÁRA
SÓ MINH'ALMA TEIMA E VOA
DO MEU PEITO PARA FORA

DEIXO-A IR
NA MARÉ
DE OUTRAS FANTASIAS
JÁ SE PERDE
NA ESPUMA DE OUTROS DIAS
NOUTRO LUGAR



Desta Margem...da pena inconfundível do Pedro Malaquias e voz do Paulo Gonzo



Quis…
Saborear-lhe a alma
Consumir-lhe o odor
Provar-lhe o sorriso

Ontem…
Desatei a chuva
Fiz de conta
Brindei à noite

Hoje apeteceu-me…
Abalar
Refulgir
Divagar

Agora…
Espraiado
Absorto
Prazenteiro

O Sol deixou-se esconder
Ela, voltou a brilhar