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E ela ali...

Porque hoje me apeteceu dar-lhe um pontapé. E ela rolou e rolou e atiçou o muro e rolou e desprezou o passeio e rompeu a estrada…e nada se lhe atravessou a senda ou propósito. Perdeu-se debaixo de um carro…alheio a tudo…tapado da luz…no descanso do uso.
Pelo final de tarde, com o ocaso a prever outra claridade herdeira…voltei a vê-la …junto ao passeio do outro lado de onde a fiz partir sem dó. Deixei-me passar.
E outra manhã se abeirou… e eu dela…e ela ali junto ao lancil olhando-me insultuosa.
Outra tarde…e outro ciclo deste tempo que por vezes se me parece parar como gestos que se assentam sem pedir. E ela ali.
E regresso… e parto de novo com a Lua…e volto noutro acordar do tempo. E ela ali.
Fiz por a deslembrar…no outro dia esquivei-me de por ela acabar. Mas ela sempre ali.
Com tantos que por ela passam, porque causa, ainda ali…
Perdi o conto aos dias pretéritos. Estirei-me, decidido a voltar a fazê-lo…desta vez não lhe decifrando o rasto, nem a seguir com os olhos…tapando mesmo o ensejo de qualquer som me trair o propósito. E outra Lua…
Alvoreceu…e o dia tornou-se maior…e anui-me em vê-la. E ela não deixou.
E dias se largaram…e luas se assomaram. E ela fugitiva.
Hoje o dia começou miúdo…e eu com ele. Atravessei a estrada… e vi-a de novo.
Tenho quase a certeza de que se riu para mim…eu sorri-lhe, com toda a infalibilidade com que se me ofereceu. Apesar de o seu sorriso ser escarnecedor…prometi-lhe baixinho, não mais lhe mudar o rumo.
Os buracos que o tempo molda em muros menos ilustres, são óptimos para guardar tesouros…mesmo de pedra, mesmo que sem outras histórias por contar.
E ela ali…ficou…
Até logo.

Um sonho…

Sentei-me na pedra que não era
Revi-me numa bruma que não vi
Olhei-me num reflexo sem retorno
Dei-me ao espaço que me trouxe
Trilhei caminhos intranquilos
Senti-me estulto, irresoluto
Contei ribeiros, fiz-me mar
Respirei ar que não o era
Fluí sílabas sem contar
Voei no vento a demora
Deixei-me ir e anuir
Para noutro sonho não perder
O que este me fez sonhar


…um acordar

Elas têm o ponto M em comum


Após o 25 de Abril todas as primeiras damas de presidentes eleitos por sufrágio democrático têm um ponto comum, vejamos: Helena Spínola, Estela Costa Gomes,
Manuela Eanes, Maria Barroso e Maria José Rita. Todas Marias.
Quem tem uma Maria tem tudo e ter uma Maria tornou-se condição obrigatória para
um candidato a Belém. Não basta a um candidato a chefe lusitano ter mais de 35 anos, reunir 7500 cidadãos eleitores, ter um projecto de candidatura e claro arranjar um megafone e um carrito com tecto de abrir para a campanha eleitoral…querer ser presidente tem outro requisito fundamental.
Se um dia pensares candidatar-te a presidente, antecipa-te e antes de mais casa-te com uma Maria, ou esquece um dia chegares a Belém.
Tudo se explica neste dia de tomada de posse do primeiro presidente português eleito no novo milénio democrata.
Temos um novo presidente e como manda a tradição, outra Maria em Belém.