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Ganzas mediáticas



Ivo Ferreira tornou-se sinónimo de ganza, mediatizado nos últimos dias depois da sua prisão no Dubai.
O amigo do Ivo depois de uma visita ao Egipto tinha encontrado no bolso do casaco, haxixe misturado com tabaco.
Há quem diga que a denuncia às autoridades do Dubai foi feita pela ex-namorada do amigo ( ai as mulheres são umas invejosas…é o que dá não a terem convidado a visitar a pirâmides).
Toda a gente sabe que no Egipto uma das tradições nacionais é a distribuição gratuita de souvenirs de erva meticulosamente colocada no bolso turista de quem visita o país. Até parece que as autoridades dos Emirato não sabem nem tem conhecimento desta prática secular. De resto toda a gente sabe do franchising jamaicano no Egipto…só os policias do Dubai é que são uns bimbos que nunca foram em turismo ao país de Ramsés

Mas falemos de coisas sérias.

O que é que os pais portugueses vão responder aos filhos, depois de verem no jornal televisivo, um português que foi preso num país do médio oriente, por ter fumado erva, e por estarem os diplomatas portugueses e restantes médias a fazer dele um mártir?

Então mas não é proibido fumar erva no Dubai?
Então mas os pais não me disseram sempre que fumar droga é um acto ilegal e não faz nada bem?
Então mas se é assim porque é que toda a gente está a defender o Ivo?
Afinal estiveram a mentir-me, porque se eu fumar e for preso, afinal não é nada grave.

Estas podiam muito bem ser algumas das muitas questões colocadas por adolescentes perante a noticia do pequeno ecran.
Acho bem que se traga o rapaz para Portugal mas que se lhe faça cumprir a pena cá.
Afinal se nada se disser nem esclarecer, um dia destes vamos ter toda a gente a ignorar a lei, por acharem que o perdão existe para todos os casos.
Os pais de adolescentes têm uma excelente oportunidade mediática para abordar o assunto e esgotarem diálogos a este propósito.

Claro que eu percebo o papel dos pais do Ivo que fazem o que quaisquer outros fariam…livrar o filho e trazê-lo para cá. Claro que os mecanismos consulares devem fazer o seu trabalho. Mas devem fazê-lo SEMPRE…quer seja uma figura mediática ou o comum trabalhador da construção civil que trabalha quase na clandestinidade noutro qualquer país. E o Dubai não é a Holanda…e quem brinca com o fogo queima-se ou faz xixi na cama.

Por posse de droga estão presos duas dezenas de portugueses em todo o mundo…e este número é apenas dos casos conhecidos pela diplomacia portuguesa. Outros tantos vão apodrecer numa qualquer cadeia doutro canto terceiro mundista.

Se virmos este caso de uma forma mais global, será que ao país que vai presidir o Concelho da Europa nos próximos dias interessa pedir o perdão de Dubai por um português que claramente infringiu a lei? E agora que tanto se fala no presidente português Europeu, será que a imagem de Portugal e da Europa sairia valorizada?
Cinco anos de prisão não são o fim do mundo e se calhar até serviam para evitar assim a banalização de casos como este nos nossos putos.

Sai uma bica

Ficar sem perceber , uma conversa, um comentário, um olhar cúmplice, é assim para o inconfortável…diria mesmo que é como um espirro que acaba por não sair…
Quantas vezes já o comum dos mortais ouviu, não percebeu, … mas fez aquele sorrisinho estúpido do pseudo esperto topa tudo de nariz levantado. Pois é, mas depois por dentro ficamos a roer-nos todos…ou não é?
Por isso mesmo hoje fiquei a perceber, o que há quase um ano me atormentava a perspicácia, quase cavalgante para a senilidade. Um sintoma flagrante de uma PDI precoce. Mas não queiras saber como me soube bem o discreto respirar fundo.
Numa cafetaria simpática da zona, que por sinal não tem cadeiras nem mesas, as pessoas levam em média uns 5 minutinhos, para pedir, consumir e ir à vidinha que se faz tarde.
O sr. Zé, homem baixo e de trato afável, começou com o negócio há pelo menos umas três década, fora os ameaços. Era eu puto e ía com o meu avô levar bolinhos caseiros que ajudavam a equilibrar o orçamento familiar. Eram as delícias dos gulosos clientes. Lembro-me do local ser assim como uma leitaria, mas onde se vendia queijo, enchidos, farinhas, massas, azeites, sombrinhas de chocolate e bens de primeira necessidade alimentar tudo sempre muito bem apresentado e arrumado como um puzzle na vitrine frigorifica, que nunca percebi como é que lá tinha entrado…eu e os puzzles…. Ali confluía a terceira idade local para o galão matinal, os tais bolinhos e o chá das cinco, mas…na altura havia três ou quatro mesinhas e as respectivas cadeirinhas. O negócio foi crescendo e o Sr. Zé comprou a loja do lado, depois a outra, e a outra e a outra e as traseiras de todas elas. Os balcões multiplicaram-se, o comércio prosperou, e hoje o Sr. Zé se fosse candidato de qualquer coisa teria futuro político.
Hoje no então espaço da antiga leitaria está uma vitrine frigorifica, mais moderna claro…a outra já não está lá, mas se calhar é porque a porta já é maior que antigamente.
E nesse espaço está apenas uma parte do balcão actual onde em pé cabem umas 20 pessoas. Na outra loja o negócio é também alimentar, mas de almocinhos em pé (claro) com comida super caseira, a consumir no local ou para fora, e padaria e pastelaria de fabrico próprio. Bolinhos de aniversário, bombons e drops e outras cenas que fazem a delícia dos olhares assediados de quem passa. Depois há ainda uma papelaria, tabacaria e afins.
Uma loja de jogos de sorte e azar, com a bênção da Santa Casa e dos SMAS e EDP onde os atrasados pagadores podem tirar o peso da consciência. Ahhhhhh…e ainda num quarteirão mais a baixo um clube de vídeo. O filho que entretanto tirou medicina à custa dos enchidos e afins, abriu uma clínica do outro lado da rua…porque o negócio do lado par é mais para o da restauração.
Voltando à história…o Sr. Zé deve empregar hoje umas vinte pessoas, o que é óptimo porque quando tomam o pequeno almoço o balcão é só deles. E eles são dos mais variados tipos, o Francisco é o braço direito do Sr. Zé, também simpático e conhecedor de todos os cantos da casa, mas depois há brasileiros, brasileiras, portuguesas, portugueses, uma russa, e mais não sei porque aquilo é para mim um momento de pequeno almoço, não vou lá para falar com as vizinhas nem para fazer sala.
E hoje…ouvi de novo…e percebiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
Quando a brasileira disse:
- Não tém hávido pasteú dji bácálháu. ( até aqui nada de novo)…
Mas a colega que normalmente serve o sector nascente do balcão, e que quando vou a entrar já está com a mão na máquina do sumo de laranja, se descaiu…ou sou eu que estou a ficar mais inteligente…
- Não sabes? Foi visitar a filha ao Porto ( yesssssssssssssssssssss)
O puzzle ficou ali mesmo todo montado. A equipa dos simpáticos pupilos do Sr.Zé têm um código alcunha para os clientes habituais…
Nos outros 3 minutos de presença no local apanhei algumas…
Bola de Berlim, Amarguinho (só pode ser um gajo que emborca amêndoa amarga), Chapata, Fofinho sem Manteiga (fofinho é um pão, fofo claro), Limonete…
Em 3 minutos…é obra.. um dia destes vou tornar-me detective…
Achei o máximo…eu que até já tenho nomes a mais, ficar a saber que se calhar me chamam Laranja e tarte de amêndoa…acho que agora os vou baralhar e começar a pedir outra coisa.
O método é fantástico para associar ao cliente àquilo que ele pede…e depois dizerem com aquele ar de orgulho profissional:
- Olá bom dia como está? É o habitual não é? Sirvo já.
Saí tosta mista, queijo magro, em pão integral sem manteiga.

Devia ter sangue azul esta,… pensei, ao sair da leitaria, com um sorriso egocêntrico.