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Final original do ano (in)par


Chamem-me mentiroso...mas tinha que vos dar outra...não me interessa, não podia deixar de partilhar este video cá do burgo antes do final deste aninho quase despedido.
Em tempo de crise tiro o meu barrete de inverno à TAP apesar de não ser originalmente global, cá pelo burguinho penso que foi. Que 2010 traga momentos multiplicados destes e de outros.
( thanks Cris)

Até 31



Esta é última que dou este ano e entro em férias de inverno. O meu espírito contra, prefere o mar à neve.
Daqui não saio até à última badalada da meia noite de 31.

- Era uma tosta mista em pão alentejano, um chocolate quente e um cheesecake de limão. E já agora uma daquelas mantinhas  que estão ali nas espreguiçadeiras.

O Tejo tem novas histórias, para me contar ao ouvido.

L'ombre au tableau





Num esquisso de leve sal molhado abraço o 9. Por cima do ombro adivinho o 10 ali mesmo, por entre serpentinas,  champanhe e fogo de artifício. Uma imagem "tecida a verbos" pintada a guache em jeito naif... lá, nesse longe tão próximo, adivinho uma nova cor  na palete. Entre  carmins, azuis e amarelos perfumados com cheiro a manjerico de primavera... o pincel descobre-lhe...o  morrer das sombras.
Bem vindos ao ano par.
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Un paysage de terre cuite, un ciel qu'on dirait de Magritte
La grange couverte de lierre, le lézard qui dort sur la pierre
Le chat enroulé sur le seuil, l'insecte caché sous les feuilles
Le monde est dans ses couleurs pures comme dans tes boîtes de peinture

Venue d'au-delà des nuages du fond du temps et des âges
Il tombe une étrange lumière d'herbe, de vent, de poussière
Sur nos deux fauteuils inutiles, ce cerf-volant pris sur les tuiles
Les choses semblent être éternelles comme dans tes boîtes d'aquarelle

Dans le bleu ciel, entre les branches, l'avion laisse une traînée blanche
Comme un ruban, un long nuage, comme pour dire "Tout se partage"
Au matin sur le lac immense, il suffit qu'une barque avance
Et l'eau tremble à n'en plus finir comme pour dire "Tout se déchire"

Peut-être, essaies-tu quelque part de peindre l'amour de mémoire
De recomposer les couleurs d'automne mourant sur un coeur ?
Si tu veux savoir où j'en suis, les choses ont peu bougé depuis
Ce jour où tu as tourné le dos, sauf peut-être l'ombre au tableau

Dans le bleu ciel, entre les branches, l'avion laisse une traînée blanche
Comme un ruban, un long nuage comme pour dire "Tout se partage"
Comme pour tes débuts à la gouache, sur la jolie toile une tache
Toute dans le blanc diluée comme pour dire "Tout se défait"

Dans ta lumière favorite, celle qu'on dirait de Magritte
La grange couverte de lierre, le lézard qui dort sur la pierre.

Aicha

Pigalle molhava-se num tremer de outono. O odor a kebab a soltar-se provocante na esquina.
O Moulin  entorpecia desejos iluminados. A noite  apressada passeava-se de Clichy a Boulogne, a Foch...para morrer no Sena depois da última gota de Beaujolais. Um vão de Saint-Louis abrigou-lhe o último adormecer. Na porta do julgamento, escolhidos e condenados clamam ao Sol outro nascer. Maomé tinha-a escolhido.



"Sismado"


Naquele intervalo de tempo em que não estamos a fazer nada, mesmo nada...nada que possamos relembrar como momento activo de referência a alguma coisa... aconteceu.
Os espanta espíritos agitaram-se assinalando numa subtil sonoridade o romper daquele silêncio de 1:37 da madrugada. As velas continuaram empenhadamente acesas sem mexer . A terra abanou.
Senti esse estremecer como se de uma carta de baralho empilhada me tratasse. Durou dois ou três segundos que abraçados à eternidade da impotência me pareceram minutos, ou horas atadas ao infinito da lógica. Era apenas um sismo. Alguns alarmes acordaram do alerta permanente que silenciam. Dois cães uivaram nos quintais vizinhos. E eu ali de pé, a herdar réstias de invulgaridade sismica.
Fui á janela e o céu estava tranquilo,não havia vento a provocar as folhas heróicas de final de outono, as luzes da rua serenas, o semáforo tinha mudado para verde, o último autocarro passava pachorrento na avenida, uma porta a fechar-se nas escadas... tudo estava onde sempre esteve sem laivos de diferença.
Uma ilusória realidade ?...e fui dormir.