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Planície

Quero um dia despedir-me da cidade num breve, até já, que vou procurar um canto rústico e alpendrado que se demarque em altura do resto da planície, com vista para o pôr do sol.
Quero ficar a roubar todos os acasos que os olhos deixarem.
Quero fixar a máquina a um tripé e fazê-la disparar-se imóvel...onde só o tempo se muda.
Quero um chá de infusão colhido na altura, em chaleira sibilante, agarrar a chávena com as duas mãos e bebê-lo da forma mais demorada que o Alentejo me deixar.
Quero uma sebenta pautada de tempo para lhe confessar a pressa que tive em tocá-la.
Quero o cheiro do pão grande que perdura.
Quero a água fria de poço a acordar-me para um novo dia.
Quero querer-me até à vontade do desquerer...num pôr do sol assim... em canto alentejano que me espera... tão distantemente perto...


                                             Foto: Inês Sotto