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Um dia, o Tejo molhou-me o querer e decidi-me.
Lembro-me de já “armado” explorar as arcadas do Terreiro do Paço e tudo o que cabia na minha única 50mm. Os carros ainda por lá se quedavam na altura. Era por ali que tinha decidido ir.
Foi paixão por uma década. Fez-me viver, sonhar, sorrir, gostar, sentir, que era a melhor profissão do mundo.
“Matar” o momento quando se pretende vivo, contar o que outros querem esconder, falar sem pronunciar um som, gritar com a maior arma do silêncio.
Noutra dimensão da mesma área, deixar as luzes pintar de negro as sombras. Fazendo brincar os corpos em telas de cor neutra. E depois oferecê-los de novo à vida num passo de mãos e química elementar.
Com o propósito de fazer gostar, de ter vontade de, sugerir tudo o que os olhos não vêm mas que a vontade comanda.
Ou ainda, para tantos outros, naturezas mortas ou imagens para plasticamente se gastarem ao sabor de todos os dias úteis, acabando um dia numa gaveta ao lado de números obstinados que mudavam de cor a cada final de mês.
Revi tudo, num incrível contraste de uma terra devota no Gerês.
Havia uma mas menos cuidada no mesmo Terreiro do Paço. Há tantos anos atrás que perdi a noção de quantos.
Imaginei tudo o que passou naquele diafragma. No jeito modesto com que se envergonha dos cliques e outros ruídos digitais, levando-lhe para longe aqueles pedaços de alma que tão poucos entendem.

1 comentários:

Maria Arvore disse...

Hummm... temos aqui uma rentrée em força. :) E agora tem muito mais a ver com o teu olhar. :)