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Do not disturb



- 2º andar!... 2º... 2º.... segundo andar.
Ao fim de alguns segundos o elevador resolveu obedecer ao meu indicador esquerdo. Cheguei a pensar naquele compasso de espera claustrofóbico, se Otis seria além de místico, também reaccionário.
Abri a porta do hall do meu piso da residencial e mesmo ali num momento surrealista, estava uma nórdica bronzeada em formato dégradé de branco a vermelho quase bife, apenas com uma tanga preta como adereço e perto da histeria, a vingar com a mão, as orelinhas, sem motivo aparente, na porta do meu quarto.
Ao ouvir-me entrar contraiu-se num gesto defensivo subtil e recuante, ao olhar-me, enquanto me dirigia para a porta agredida.
Percebi o motivo… E apontei com o indicador direito ( não fosse o seu apelido também Otis e provocar demora na reflexão) para outra porta ao fundo do corredor de onde provinha o testemunho sugestivo de “sex loud and clear”.
Pediu-me desculpa em jeito de vénia desnudada, retirando-se em recuo, sem se importar, ou por esquecimento, de ir repetir a vingança na porta certa.
Fiquei a saber que o gesto de apelidar a loucura com qualquer um dos indicadores disponíveis em círculos junto á cabecinha loira era internacional… tendo desaparecido no escuro do quarto vizinho.
O meu sono foi contrariado também pela agitação do quarto suspeito que se ouvia na porta da rua.
Algo me motivou algum orgulho na minha portugalidade.
Os direitos de autor da minha vizinha do quarto ao fundo eram Made in Portugal.
E os auges sucediam-se sempre no feminino…pelo menos os que a partir de um numero sem conta, largamente superior a sete, me começou a despertar a curiosidade matemática.
Sem contar múltiplos e a cadência estonteante testemunhada ao segundo em jeito de relato pela interveniente, com uma precisão estonteante…a noite prometia. Mas apenas por lá. Os vizinhos que se lixem com um F despreconceituado.
Farto de contar os orgasmorelatos da vizinha, e porque comecei a duvidar que o quarto fosse ocupado por mais alguém a menos que o segundo ocupante fosse mudo, decidi olhar para o relógio. Cinquenta minutos desde a minha chegada a uma cadência quase suíça.
A minha última teoria foi mesmo a de pensar que era um novíssimo modelo importado de alarme em teste anti-roubo. Mas rapidamente abandonei a ideia.
Em jeito de final de fogo de artificio o último sinal apoteótico sugeria o regresso à normalidade decibélica, mais agora deci que bélica, confirmada logo a seguir pelo ruído mais contido e discreto da água corrente no chuveirinho.
Já há uns anos que não vinha ao Algarve, provavelmente a nórdica nunca cá tinha estado…
Seria o propósito de me bater à porta ter a ver com o incomodo pelo barulho do quarto do fundo???
Assim como assim…preferi a última e prometedora letra do abcedário.

1 comentários:

Anónimo disse...

Estavas com uma vontade de ir fazer companhia à nórdica...és mesmo terrível...confessa lá seu sedutor multicultural...

Beijo doce...