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Fogo


Numa manhã deste verão quente, e depois de uma noite de pouco sono e muito calor, fui por aí…estrada fora, porque já não sentia o que era , ir andando, há muito tempo…porque estes estados me acontecem sem hora , nem aviso, e simplesmente porque é assim e não se fala mais nisso.
Umas visitas a locais de culto desta sociedade de consumo…o procurar uma loja onde havia um candeeiro invejável, “que ficava chiquérrimo naquele aparador da sala kika”…ou seria keka? Mas a estrada deve ter mudado entretanto …teria buracos novos ou foi a orientação do condutor que se perdeu no tempo? Nada feito perdi-lhe mesmo o Norte e todos os outros pontos cardeais por acréscimo…tentei pedir socorro mas num sábado de manhã claro que as probabilidades eram remotas.
A estrada só para mim…coisa rara nos dias que correm, não fora os condutores de fim de semana, com popós que ao longe até encandeavam de tanto brilho na chapa…de quando em vez lá passava um…num semáforo, olharam-me com desprezo, já um gajo não pode ter um carro maquilhado com pó…é certo que qualquer semelhança com o de arroz é pura coincidência... estes “valetes do volante polido” provocam-me alergia respiratória…
A auto estrada foi preterida pela nacional, uma paragem nas tortas de Azeitão: “dê-me aí duas caixas ó faxavor”…
No resto do caminho de volta, o olhar perdeu-se no lado direito da estrada, abrandei até parar…uma vasta extensão de pinhal deixara de o ser…a árvores pareciam de folha caduca de outros Outonos, uma vasta área tinha ardido. Um pinhal sem cheiro, sem vida, de fazer quase arrepio.
O ano passado foi o que se viu, este ano as coisas não estão a melhorar…os incêndios continuam a sufocar uma boa parte dos pulmões nacionais, repintando o verde de castanho morto…imaginar como seria a vida ali mesmo em frente de mim há uns dias atrás…
Quando os fogos são de origem criminosa, o incendiário devia cumprir uma pena a reflorestar as áreas ardidas, árvore a árvore, arbusto a arbusto, e de sol a sol…para não falar na fauna que a maioria desconhece e que desaparece nas cinzas. Que me perdoem os senhores da amnistia, e o todo poderoso que segundo os crentes deu vida a tudo isto, mas perante tal cenário até me apetece dizer que reflorestar as zonas ardidas pelos próprios incendiários seria ainda pouco…acho que a pena por homicídio voluntário se deveria aplicar também nestes casos…e já agora deixem os gajos um bocadinho só, lá perto do braseiro…só o tempo de queimarem os pelinhos todos…assim tipo quando deixamos os dedinhos perto do lume o suficiente para deitar cheiro… e queimem-lhes os “túbaros” até ao nível seguinte ao suportável, logo após o choro baba e ranho penitentes. Neste casos sou pelo semi linchamento público, com povo a assistir e tambores a rufar… mas quais direitos do homem…e os da floresta? E os de todos os outros? Não me fecundem com princípios éticos de retórica.
Já para não falar nas inúmeras medidas que os sucessivos governos não têm empreendido para ao menos reduzir a área ardida de ano para ano.
Como diria um tio velho, de que não lembro o nome…”Capem os gajos”.

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