Páginas

Planície

Quero um dia despedir-me da cidade num breve, até já, que vou procurar um canto rústico e alpendrado que se demarque em altura do resto da planície, com vista para o pôr do sol.
Quero ficar a roubar todos os acasos que os olhos deixarem.
Quero fixar a máquina a um tripé e fazê-la disparar-se imóvel...onde só o tempo se muda.
Quero um chá de infusão colhido na altura, em chaleira sibilante, agarrar a chávena com as duas mãos e bebê-lo da forma mais demorada que o Alentejo me deixar.
Quero uma sebenta pautada de tempo para lhe confessar a pressa que tive em tocá-la.
Quero o cheiro do pão grande que perdura.
Quero a água fria de poço a acordar-me para um novo dia.
Quero querer-me até à vontade do desquerer...num pôr do sol assim... em canto alentejano que me espera... tão distantemente perto...


                                             Foto: Inês Sotto

7 comentários:

Brown Eyes disse...

Também sonho em deixar a cidade definitivamente, não há nada como a paz do campo. Beijinhos

Anónimo disse...

...na planície prevalece a rusticidade. No plano o alto toca-se em desvelos, o azul celestino fica a uma distância curta, mas longa de sentires...
Num tempo onde nem sempre o tempo passa...passa o tempo, horas desfilando em pensares, em outrora...em nadas de muito...em muito de tudo...tempos de tempo vivido, sonhado...tempo passado...Nas gentes, em reflexos de poças, sempre que a chuva cai, notam-se sulcos da vida,...vidas, vidas de frio, de calor, de preto, de branco,… vidas vividas, vidas passadas com muito, com pouco viver...
Aqui há marcas...o Alentejo é pleno de sentires...hoje sonhado, nem sempre percebido, nem sempre acarinhado...
Mas as gentes ergueram braços, entoaram hinos, tocaram além, onde o Sol se põe e seguiram e seguem...
Na dureza da terra mãe banham-se nas raízes ancestrais, florescem em cada Primavera e de olhares perdidos, cheios de horizonte abraçam os ventos de Inverno, transportando-se até onde o sonho alcança...
...aqui os chás têm sabor a limão, a erva Luísa , a simplicidade...os poços vão secando, a aridez caminhando...mas nada nem ninguém derrubará quem tão próximo está do além...
O Alentejo deixa-se gostar, deixa-se sentir, quer-se respeitado, amado..."SEJA BENVINDO, QUEM VIER POR BEM!"...de braços abertos recebe-vos, dá-vos o sabor da terra, os cheiros das ervas, a sombra em Estio, o carinho sem tempo, a paz merecida e em dedos de papoilas toca-vos delicadamente para em beijos de trigo dourado ser vosso leito e de luares vos pratear...
Horas de Poente neste estar distante do meu horizonte, horas de saudades infindas da imensidão do meu sentir, que sinto a galope, na tentativa de acelerar horas para lá estar…
Felizes dos que se sentem em planície no alto...

Anita disse...

E se queres, vai conseguir, pois querer é poder.
Desejo que consigas ir para o Alentejo dos teus sonhos, beber chá,ver o por do sol, etc...

ideias de maré disse...

As coisas mais simples da vida são as que mais facilmente nos transcendem.
"...Quero querer-me até à vontade do desquerer..."
Abençoado almoço que me permitiu aceder ao que tu crias.
Vou continuar a querer mais...
Beijinho,
Ana

Brown Eyes disse...

Vim desejar-te um feliz 2011. Beijinhos

Anónimo disse...

Sinto que matei um sonho.
Gostaria de ter trazido alguém à planície.
Não me perdou.
Sei que não és desistente, concretiza o teu desejo é um desejo meu.
Bj

Anónimo disse...

Olá, amigo.

Vim conhecer o seu espaço e me encantei com tudo por aqui!

Seus textos são belíssimos e de um lirismo delicioso.

Esse, em especial, me fez sentir tudo ao mesmo tempo. Foi uma experiência sinestésica lê-lo.

Um grande abraço... e parabéns pelo belo trabalho que desenvolve aqui. :)