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Arrumava velhos discos de vinil e notas em papeis soltos dentro de um saco enorme. Fez-me a passagem de antena e trocámos algumas palavras. Os anos noventa tinham começado por essa altura. Habituámo-nos a esse ritual durante um tempo...pouco importa quanto. O Rogério era a voz maior da estação. Foi ele de resto "o pai" dessa rádio que uns anos antes tinha conquistado um espaço por direito próprio no éter da cidade luz. A voz era rouca, segura, pausada. Os seus poemas surgiam pelo meio de músicas e pensamentos, onde Amália e o fado tinham sempre lugar cativo. Umas das memórias que me ficaram desse tempo eram desenhos soltos, feitos durante cada programa e abandonados no cesto dos papeis, que me habituei desamarrotar a cada vez que me sentava para mais um programa. Alguns anos depois os caminhos afastaram-se. Passaram mais uns anos, não sei quantos, mas amizade perdurou. O Rogério do Carmo escritor, caricaturista, vernáculo, "je m'en fous", polémico, espontaneo, editou mais um livro de poemas. O livro chama-se "Vagas"... lanço ao mar virtual um registo do poeta e amigo. Um abraço Rogério.

4 comentários:

Maria Oliveira disse...

Excelente homenagem ao amigo...
Ouvi com atenção a poesia de Rogério do Carmo...
Poesias que contam histórias de cenários envoltos nas teias do tempo e estados de alma que os acompanham...
Apetece ouvir de olhos fechados...

A existência humana é mesmo feita de vagas de sentimentos e emoções. Umas vezes mansas outras vezes em fúria...

Anónimo disse...

Não sei quem é a Paula mas gostaria de lhe dizer que estou de acordo com o que ela diz: A vida é feita de Vagas, umas mansas e doces que se espraiam pela a areia e nos acariciam a pele, outras são rebentações furiosas que tudo derrubam ao embaterem nos rochedos.
Eu escrevo poemas que são uma fuga da alma e outros que são chicotadas nos abusos de poder de certas pessoas que não deixam os outros se espraiarem como Vagas.

Como a Paula, eu também fecho os olhos para ouvir esta gravação do meu poema "O Regresso"... somos dois e sermos dois foi sempre muito melhor do que estarmos sós.
Obrigado, fez-me sentir que afinal valeu a pena ter nascido!

Um beijo muito grande,

Rogério

Maria Oliveira disse...

Foi com uma doce surpresa que li as suas palavras Rogério.
A poesia é a música da alma, e sendo esta uma linguagem universal, entra no íntimo de todos os que ousam debruçar-se sobre o sentir e o bater do coração de um ser humano... e sei que há seres humanos inigualáveis,

Sincero abraço

Anónimo disse...

Paula:

Vou ezstar em Lisboa entre o dia 15 e 29 deste mês.
Se você vive em Lisboa, bem gostaria de a conhecer;
Você é também um poeta! Gosto imenso da maneira como escreve!
Se viver em Lisboa, contacte-me e terei tanto prazer em a conhecer pessoalmente.
Que seja magra ou gorda; rica ou pobre; feia ou bonita; jovem ou, como eu, avançada no tempo que nos mata!
Talvez um café junto desse pobre Fernando Pessoa que está ali, coitado, a gramar a poluição da cidade e os "embates" dos passantes que passam sem sequer o ver! Tal como nos tempos dele, em Lisboa, nesse mesmo Chiado, sem que dessempor ele!
Ele deixou este mundo em 1935 e eu entrei neste indiferente mundo quase no mesmo dia...

Contacte-me via mail:

carmopat@dbmail.com

Estarei aqui em Paris até dia 15 deste mês, até às 11 horas dessa manhã. Nessa manhã, um avião me esperará em Orly, para me levar até Lisboa, a matar saudades do nosso sol
e de alguns amigos a quem muito quero e voltar a ver o meu Chaido, esse Chiado que me recebia de braços abertos, desde a idade dos meus 5 anos... já lá vão tantos...

Um beijo,
Rogério