Páginas

Desconversas de escada




Hora: 13,10 h , segunda-feira
Metereologia : Manhã de nevoeiro, 12º.
Detalhes: vários, irrelevantes


A porta da rua abre-se e alguém entra.
O chiar de uma caixa do correio a abrir
Um cão ladra.
Outra porta que se abre no 3º.

Vizinha 1 – Vi zi nha
Vizinha 2 – Diga
V1 – Importa-se de ver se tenho aí correio
V2 – Sim sim veio
A vizinha 3 abre a porta do 1º, sai e fecha a porta à chave.
V1 – Veio?
V2 – Sim veio
V1- Quem é que veio?
V2 – O carteiro
V1 – Importa-se de ver aí na caixa se tenho correio?
V2 – Sim D. Margarida, já lhe disse que veio
V3 – O carteiro D.Luisa, ela pergunta se tem correio.
V2- Estava à espera da reforma mas sempre que é para receber chega sempre atrasado.
V1 - Mas veja lá se tenho aí correio a caixa está aberta. E assim escuso de ir aí abaixo.
V2 – O que é que ela diz que não percebo?
V3 –Está a perguntar se tem correio para ela.
V2 . Ah
Vizinha 3 decide de ver ela mesmo se a vizinha do 3º tem correio na caixa.
V3- Olhe… D. Margarida tem aqui duas cartinhas sim.
V1 – Veja lá por favor se alguma é da reforma.
V3 – O que é que ela disse?
V2 – Olhe também não percebi.
V3 – O que é que disse D. Margarida?
V1 – Veja lá se está aí a minha reforma, se faz favor.
V2 – Ela disse qualquer coisa da obra, mas também não percebo.
V1 – DA REFORMA,R E F O R M A veja lá se está aí uma carta DA MINHA PENSÃO.
V3 – Eu não percebo nada do que ela diz…
V2 – Nem eu… O que é que disse vizinha?
V1 –…SE ESTÀ AÌ NA CAIXA UMA CARTA COM A MINHA PENSÂO.
V2 – Ahhhhhhhhh ela pergunta se o carteiro deixou cá cartas ou não.
V3 – Deixou duas cartinhas para si deixou, já tinha dito. Até logo D. Margarida. Ai esta escada faz tanto eco.O que vale é que ainda vamos ouvindo bem. A D. Margarida é que está pior,ooitada.

As vizinhas despedem-se e a do 3º pouco convencida com a eficácia da vizinhança desce a custo até ao R/C abre a caixa e diz para si em voz alta:

V1- O raio das velhas nem um favor sabem fazer…não estão cá cartas nenhumas valha-me Deus. Jarretas…

E sobe de novo para o terceiro sussurrando ais e sons de fazer andar os burros.

...




Nevoeiro é: D. Sebastião, cheiro de nuvens, o vento que se esconde, o querer ver e ele não deixar, é rolar com outro cuidado, é um olhar atento, e sinónimo de final de estação.
Trouxe com ele o frio. Hoje foi dia de mudança. No tempo, na vontade de mudar o tempo sem saber se o outro tempo que virá será tão denso quanto este.
Os barcos ecoam no rio apalpando com sons a calmaria do Tejo.
Nevoeiro é o silêncio de passagem para outro lado. Nevoeiro é tudo o que cabe escondido até decidir ser assim. O nevoeiro é respeitado pelos heróis de todos os mares.
Mas afinal é tão fraco e imprevisível que uma brisa teimosa lhe leva num ápice todo o encanto.
Sempre gostei dele. De o respirar, de o tocar de lhe adivinhar o rumo.
O nevoeiro engana e joga às escondidas com quem o quer perceber.
Marcou as últimas manhãs e hoje quase todo o dia.
Acho que se um dia pudesse ser como ele não queria ser mais nada. Deixar-me levar por uma brisa que me elevasse o estado, tornar a ser nuvem altiva até me transformar em gota mergulhante, penetrar a terra e voltar a ser vapor e de novo água. Matar fogos e sedes, alimentar planícies e faunas. Ser livre de poder voltar a sê-lo de novo. Regressar e fazer mais uma vez todo o caminho de volta. E outra ainda , com mais empenho, com mais vontade de ser nevoeiro. Com mais empenho na vontade.
Se o nevoeiro se for , porque todos eles se vão, que leve com ele tudo o que o quer deixar ficar. Que leve tudo sem rasto. Porque um dia sei que vai voltar e eu abrirei os braços para nele fluir.

Simulação...OK Mulher




Assim lá no iníciozinho entrou-me por um ouvido e seguiu o curso normal do ditado.
Umas vezes depois, achei que o otorrino me fazia um chamamento interior para consulta de urgência. Mas afinal o sentido auditivo estava de boa saúde e recomendava-se.
Até pensei que vinha aí mais uma marca com produtos técnologicamente super finos para aqueles dias em que até as deixamos levar o carro e lhes fazemos as vontades mais secretas como investimento para que o diálogo não se torne monocórdico, tadinho. Mas não, não era nada disso. E muito menos o último grito da medis.
Afinal elas, parece que estão mais seguras que nunca. Será que pela força das circunstâncias é mesmo necessário um seguro especifico para elas? Nunca imaginei que o número de acidentes com elas fosse assim tão motivador do novo conceito, mesmo descontando o facto de não haver nada que não se invente.
Eu sou gajo, e como gajo, tenho, apesar de dizer que não, uma réstia ( que modesto que eu sou) de machismozinho como qualquer ser “gajo” que se preze. Mas daí a não me importar que se invente um seguro para dizer-lhes que agora se podem sentir mais seguras é um pouco má onda.
O produto é excelente para as famílias de dois ou mais elementos em que o carro é tão disputado como o último “mon chérie” depois da festa acabada. Os gajos tem agora uma excelente desculpa para não emprestar mais o carro às caras metade, ou quartos, ou terços que sejam.
- Não tens o ok teleseguro mulher? Então vais a pé.
Imagino frases como esta. Como dádivas ao interesse deles, gajos.
E o MDM está onde? E as feministas fazem o quê? E as deputadas ficam caladas? E as outras que não se enquadram em nenhuma destas, cruzam os braços? E ainda uma parte das restantes que guiam infinitamente melhor que eles?E a DECO? E as organizações que pugnam pela igualdade de sexos? E a Marta, continua impávida a atender o telefone da empresa? E, e, e então não se faz nada? E se fosse mulher fazia greve.

-Alô? Marta? Olá, chamo-me Adulcindo, sou misógeno, tenho um tique nervoso quando espirro e uma casa no Meco. Há algum produto específico para mim?


PS- O que gosto mais no site, é tratarem as clientes no masculino, mesmo na simulação…um must.