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Bacalhaus



O bacalhau pendurado na porta da mercearia vai acabar. È verdade…
Assim sem mais nem menos, sem avisar o povo. Era bom mas amanhã já não há.
A nova legislação vai obrigar os comerciantes e manterem o bacalhau a uma temperatura até 7º centigrados.
Ou então vamos ver o bacalhau pendurado no prego só no Inverno, e ao lado de um termómetro não vá a temperatura subir e toca a guardar o bacalhau no frigorifico.
O cliente português, maior consumidor mundial do fiel amigo - tínhamos que ser grandes nalguma coisa porra – não vai acatar a lei. Quase que ponho as mãozinhas no fogo, ou melhor nas brasas. Já estou a ver os protestos nacionais em massa, com manifestações de rua e greves gerais e de zelo. “Queremos de volta o bacalhau, senão isto está mau”, dirão em uníssono, ricos e pobres, jet setes e patrícios, tias e padrinhos, homens e mulheres, velhos e novos, desportistas e acamados, autarcas e presidentes de clubes, árbitros e jogadores, todos os académicos do bacalhau e turistas. Acho que depois do euro o bacalhau nos vai unir de novo e por inteiro, à volta do cheirinho único. Manifs de rua em tudo quanto é cidade vila e aldeia deste Portugal que sempre comeu bacalhau. Cartazes, panfletos, megafones, bacalhaus em punho, petições, mulheres e homens solidários com a causa sem tomarem banho há 3 meses, porque esta será uma de causas…o povo unido pelo bacalhau. Vigílias à porta de S. Bento que será forrada a bacalhau virtual…porque as reservas se estão a esgotar e dentro de anos acabou-se.
Não vai haver ministro a livrar-se de uma bacalhauzada na tromba dado por uma varina de avental preto e moedas a tilintar.
Se até hoje ninguém morreu por causa do bacalhau pendurado porque é que agora alguém acordou com dores de barriga e pensou que era do bacalhau ? Não poderia ter sido do vinho? Ou do doce? Ou das voltas que deu na cama com o bacalhau da secretária logo a seguir ao jantar? Tinha que ser o bacalhau o bode espiatório.
Isto vai ser grave, vos digo eu. Privar o povo de bacalhau, impedi-lo de lhe tocar, apalpar e cheirar antes de comprar não vai ter um final feliz . A menos que o objectivo seja de preservar as reservas mundiais deste pescado. Mas também não me parece. Se assim for em vez de trutas começamos a produzir bacalhau de cativeiro. Até não seria mal pensado…o pessoal lavava-se menos, poupava-se água, e as Etar fariam um acordo com os viveiros. O cheirinho a bacalhau seria borrifado no peixinho depois de seco e teríamos um genuíno bacalhau de produção nacional assim se completando o ciclo alimentar.
Ao que se sabe…porque isto de previsões tem que se lhe diga, apenas vão poder ser considerados e vendidos como tal três tipos de bacalhau, tudo o resto será por exemplo, “pescado salgado seco”…o que não vai dar jeito nenhum…imagine-se uma ementa – pescado salgado seco à Braz , pescado salgado seco com batatas a murro, pescado salgado seco com natas, punhetas de pescado salgado seco …conseguem imaginar? Eu também não.
Ahhhh e será que a SPA vai obrigar o Quim a trocar a letra do “bacalhau da Maria” por “pescado salgado seco da Maria”? A menos que o dela seja de uma casta do Mar de Barents.

Vou passar pela mercearia da Ivone , ver as moscas e sentir o cheiro do bacalhau pendurado. Hummmmm há lá coisa melhor que um cheirinho assim

2 comentários:

g. disse...

risos... folgo em saber q gostas de um bom cheirinho ;)

(então e a rua dos bacalhoeiros, e as caras de bacalhau, ahhhhh e as línguas hummmm)

ehehehehe

Maria Arvore disse...

Isto de congelar as tradições por conceitos higienizados é destruição do nosso património cultural com Eme Grande.

E acompanho-te nesta campanha, chez moi. :) Tivéste uma óptima ideia. :)