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Take Another Plane



Viajar de avião é, ainda hoje, uma espécie de viagem inaugural do Titanic, onde se chega com uma antecedência mais que comfortável.
Passageiros que esperam em frente ao check-in de armas e bagagens em riste, qual batalha a travar com o inimigo caso este ouse avançar com o carrinho “pesado” para além da margem de segurança permitida pela hierarquia pessoal. E discutem e verbalizam bocas indirectas, na mira de serem compreendidas, ao infeliz parceiro de viagem. Já vi arrancar cabelos, estalos e murros pela conquista de um lugar à frente. Lembro-me sempre daquela máxima que me contavam quando era puto, sobre os frequentadores das salas de cinema que se sentavam na fila A, para verem o filme primeiro que os outros.
Apesar de nesse dia a fila não ter tido nenhuma ocorrência digna de reparo, o caricato veio do outro lado do balcão…será que os funcionários de check-in também são empregados de balcão?...
- O seu relógio está certo?
Perguntou o senhor engravatado de camisa branca.
- Sim o meu relógio normalmente está certo, se bem que não seja made in Suiça mas acho que sim.
Respondi
- É que o check-in fechou há 5 minutos
Enquanto segurava um telemóvel junto a uma das orelhas
- No e-ticket está assinalado para estar às 13 e são 13.05 h. Fechou ou abriu há cinco
minutos?
Perguntei
- Pois mas agora vai ter que esperar pelo próximo voo. Como lhe disse o voo está
fechado e já não pode embarcar.
O diálogo durou mais sessenta segundos até ele decidir que o meu caso era mais importante que o do telemóvel pessoal e decidiu finalmente desligar.
Alguns minutos e estava já sentado na sala de embarque atrás de uma fila que ainda não tinha sequer começado a entrar para o avião. O senhor do check-in estava por certo mal disposto nesse dia.
Meia hora depois estava na manga de acesso ao avião. Uma espera de outros cinco por motivo desconhecido…e finalmente sentei-me. Realmente o senhor do check-in estava fora de tempo nesse dia.
O carrinho dos comes e dos bebes, passa por mim sem parar…até pensei que era o rápido. Mas não. Perguntei depois de quase toda a gente estar servida se havia algum problema ou se tinha sido castigado por chegar atrasado cinco minutos ao check-in.
- Não o avisaram que os passageiros de ultima hora não tinham direito a refeição?
Disse a simpática hospedeira de sorriso escancarado, de onde se conclui que faça vento chuva ou sol um sorriso é sempre um sorriso.
Disse-lhe que não, mas sendo assim…
- Mas se não ao visaram não há problema, aqui tem a sua refeição.
A “refeição ligeira” ligeira anunciada em três línguas pelos comandante tornava-se cada vez mais ligeira…
Fiquei mais aliviado, feliz e confortado, por saber que afinal ninguém morre de fome num avião da TAP com hospedeiras humanitárias em voos de cento e vinte minutos…seja qual for a hora da chegada.
Afinal se a companhia aérea nacional tem vindo a cortar nas despesas, aumentando os preços, porque não cortar mais um bocadinho. Fiquei a saber que afinal não foi um acaso…as refeições aéreas passaram a ser definitivamente uma mini sandes de atum com amostras de ovo, um bolinho seco, copo de água ou sumo e já é um luxo haver ainda chá ou café. Depreendo que em classe executiva, já não deve haver champanhe, e as poltronas devem ter menos molas…mas será que ainda servem sobremesa?
O spot publicitário da companhia já deve estar prontinho a enviar para as agências:
“Viaje com a TAP e saiba que se chegar a horas ao check-in tem direito a uma magnífica refeição a bordooooooooooooo”.
Agora percebo e apresento publicamente as minhas desculpas aos adiantados guerreiros do check-in afinal todas as batalhas travadas por um lugar à frente têm a ver com a lei da sobrevivência nos céus do planeta.
Um dia quando os aviões se tornarem recintos de piquenique aéreo com toalhas de quadradinhos, marmitas de arroz de tomate, pasteis de bacalhau e garrafões de cinco litros, Portugal entra na história como país inventor de um novo conceito de viagens aéreas. Virão turistas de todo o mundo experimentar a sensação de um voo à moda portuguesa em avião panorâmico, com hospedeiras de avental e lenço na cabeça. E em classe executiva, porque isto é para quem pode, haverá uma barraquinha do rei das farturas para distribuir à “volonté” pelos VIP’s desse e doutros Jet’s.